O filósofo Friedrich Nietzsche formulou o conceito do Eterno Retorno.

Segundo ele, o Eterno Retorno diz respeito da possibilidade de nossas  existências se repetirem infinitamente, fazendo-nos obrigados a viver  nossas vidas exatamente da mesma forma que a estamos vivendo agora,  cometendo os mesmos erros e acertos, e não adicionando nada de novo a  elas: estaríamos, portanto, em uma prisão pela repetição. Distante de  buscar discutir filosofia ou metafísica aqui, se aplicarmos esta ideia  ao entendimento de nossa política podemos cunhar um termo que é quase  como uma doença (tragicômica) que atinge os estadistas do brasil: O  Eterno Retorno Tupiniquim.

É quase como se estivéssemos fadados a cometer sempre os mesmos erros  do passado: nós, como Estado, caímos sempre nas mesmas armadilhas,  recorremos sempre aos mesmos populismos (vestidos de outras cores),  apelamos sempre aos mesmos desastrosos recursos econômicos, e falhamos,  ainda como indivíduos e sociedade, em impedi-los de ocorrer.

Sendo assim, a crise que enfrentamos agora, personificada nos erros  da figura (também tragicômica) de Dilma Rousseff e seu partido, é a  mesma crise que enfrentamos em 80, que enfrentamos com Getúlio, que  enfrentamos com Rui Barbosa: é a crise do estatismo inconsequente, é a  crise da megalomania política, é a crise da falta de liberdade. Como é  possível, então, sair deste ciclo vicioso, deixar de lado o Eterno  Retorno Tupiniquim, que não sabemos se está mais para samba triste ou  tango desastroso?

A resposta não é tão simples. Um choque liberal, ortodoxo, na  economia, que aparenta ser a solução, nunca conseguiu ser executado por  completo em nosso país. Sempre foi feito pela metade, nunca foi liberal  de fato. Para combater a Crise do Encilhamento, gerada essencialmente  pela emissão de moeda e crédito sem critérios, Campos Sales combateu a inflação retirando moeda de circulação e impedindo sua  emissão, buscou por uma moeda forte e estável. Conseguiu também cortar a  despesa do governo e diminuir o déficit orçamentário. Mas aumentou  significativamente os impostos, gerando descontentamento popular. Enfim,  equilibrou o orçamento, e o Brasil até pôde respirar. Mas não por muito  tempo: não ia tardar para que o estado começasse a se descontrolar  novamente, passando por insanas empreitadas intervencionistas como o  Convênio de Taubaté e os planos de Valorização do Café, uma das causas  da profunda recessão que tivemos em 1929. O problema tem origem na  liberdade que tiveram os políticos para bolar seus planos mirabolantes e  de ser imprudentes na administração pública.

A história da crise que vivemos agora não é tão diferente assim. Após  sete desastrosos planos econômicos para conter a inflação e gerar  crescimento, todos com efeitos opostos aos pretendidos, finalmente um  governo de esquerda cedeu e implementou as reformas econômicas ditas  “neoliberais” que foram delineadas no Plano Real. O Problema do  “neoliberalismo” Brasileiro é que este também foi implementado pela  metade. Privatizamos (porcamente) estatais, mas mantivemos seus setores  altamente regulados e protegidos de concorrência. Continuamos com um  modelo de impostos extorsivos e ineficientes.  Encabeçamos uma burocracia tão enlouquecedora que quando comparada aos  pesadelos burocráticos de Kafka, esses mais parecem historinhas para  fazer criança dormir. O grande triunfo do Plano Real, a moeda  relativamente estável e política monetária relativamente prudente  (segundo a visão do economista Leandro Roque),  logo foi revertido pelo uso de bancos públicos para expandir o crédito  e, mais tarde, oficializado no governo Dilma pela Nova Matriz Econômica,  basicamente um paraíso Keynesiano. E novamente nos encontramos no  atoleiro. O problema, depois de tantos anos, continua sendo a facilidade  que tiveram os políticos para ser imprudentes na administração pública,  buscando satisfazer suas alucinações de grandeza.

A questão é: se implementarmos medidas liberais neste ponto,  provavelmente ainda estaríamos sujeitos ao Eterno Regresso do Estatismo.  A única forma de impedir que isso aconteça é institucionalizando estas  reformas, impedindo que elas sejam desfeitas, as constitucionalizando; é  proibindo a imprudência. Devemos observar como isso foi feito na Nova  Zelândia, e buscar adaptar algumas reformas ao nosso país: a Nova  Zelândia, na década de 80, se encontrava sem grandes perspectivas  econômicas, em estagnação, com uma economia muito fechada e estatizada.  Foram feitas reformas quase irreversíveis que se espelham no entendimento da Escola de  Chicago e de Friedrich Hayek, que vê o mercado como um processo de  descoberta, e ressalta a importância dos fluxos de informação para que a  economia se torne mais racional. Especificamente, isso se vê  implementado no setor público, que se tornou muito mais transparente e  previsível, não só em suas ações como em suas metas e resultados,  tornando para o setor produtivo o planejamento com base nessas variáveis  muito mais simples. Foram criadas também leis que obrigam os políticos e  burocratas a serem mais cuidadosos e transparentes com as finanças  públicas, como a Lei de Finanças Públicas, a Lei de Responsabilidade Fiscal,  a Lei do Banco Central (esta última merece um artigo dedicado a  explicá-la, por sua singularidade) - que não podem ser alteradas a  bel-prazer, como fazemos aqui, por exemplo, com nossa Lei de  Responsabilidade Fiscal. Hoje, o país é uma das economias mais prósperas  e livres do mundo.

É evidente que temos incontáveis reformas a executar, e que estas  devem ser ainda muito discutidas, porém devemos fazer uso de uma  situação crítica como a que nos encontramos agora para implementar  medidas que dificilmente seriam realizáveis (por motivos políticos) em  momentos mais tranquilos. Sabemos, ainda, que o liberalismo no Brasil é  demonizado pela esquerda, mas que o pensamento liberal vem crescendo de  forma consistente e satisfatória, e, ultimamente, surgiram diversos  políticos e alguns partidos apoiando ideias de liberdade: afinal, não  precisamos mudar o congresso para conseguir apoio para tais reformas:  precisamos tornar nossas ideias politicamente lucrativas, como disse Milton Friedman.  De fato, estamos conseguindo fazer isso. E talvez estejamos próximos do  fim dessa prisão de megalomania política e irresponsabilidade que é o  Eterno Regresso Tupiniquim.